sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Comunicação, direitos humanos e a cidade invisível

Na cidade Xis, a maior parte da população é invisível. Isso mesmo. Invisível.

Andando pelas ruas, não dá pra ver ninguém pedindo esmolas ou buscando alimentação no lixo da minoria que ainda conseguimos enxergar.

Como as pessoas são invisíveis, não dá pra ver o tamanho da fila dos hospitais públicos. Nem os protestos que se faz por melhores condições de moradia. Não dá pra ver gente com fome e sede de água comida e cultura.

Também fica difícil consultar os invisíveis para saber de suas reais demandas. Fica difícil saber quais são as suas prioridades. Seus anseios e desejos. Suas idéias para fazer com que a cidade Xis cresça, fique mais bonita, mais elegante, mais justa.

Essa população invisível mora em bairros não menos invisíveis. Mal iluminados, mal saneados, mal servidos de serviços públicos, esses bairros são completamente desconhecidos pelo pessoal – visível – que mora nas áreas mais nobres da cidade.

Sem conhecer a multidão que não se pode ver, as poucas pessoas visíveis da cidade tentam comunicar-se entre si. Procuram trocar informações sobre onde comprar as melhores roupas, onde tomar a cerveja mais gelada. Onde comer a melhor comida japonesa, que música ouvir, que filme assistir. Em quem votar.

Assim como as lojas que vendem roupas de marca, sabonetes perfumados, velas coloridas e eletrodomésticos, os meios de comunicação nesta cidade também estão sob o controle de empresas privadas. Poucas empresas grandes, que controlam todo o fluxo da comunicação através de uma lógica simples: fazem parte do processo as informações que podem render dividendos aos proprietários (bem visíveis) do veículo de comunicação.

Telefones, computadores que acessam a internet, rádios, televisões, jornais. Tudo vem com etiqueta de preço, com código de barras. O cliente (não mais cidadão) pode ter acesso aos meios pagando diretamente por eles ou através de comerciais explícitos ou implícitos.

Deste modo, a comunicação parte sempre das mesmas pessoas visíveis, atingindo, analisando, rotulando e classificando cidades e cidades, bairros e bairros, pessoas e pessoas. Visíveis e invisíveis. De poucos para todos e todas, a comunicação hegemônica nos diz o certo do errado.

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Por Ivan Moraes Filho
Articulador MNDH PE

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