terça-feira, 10 de julho de 2007

“O único setor do Estado que foi à Cabrobó foi o repressor.”

Antes de qualquer notificação sobre a reintegração de posse, na tarde anterior ao dia do despejo, já existiam militares impedindo a entrada nos dois acessos ao parque. Quando questionados pela ação e sobre a não apresentação de qualquer documento um dos policiais afirmou “o documento somos nós”.

O diálogo entre o Estado e a manifestação está completamente paralisado. “Eles foram tentar um diálogo lá no acampamento depois do pedido de reintegração de posse. Não há diálogo verdadeiro quando você ameaça primeiro e depois propõe diálogo”, diz Rubem Siqueira, coordenador do acampamento. “A gente está indignado com a postura do governo de, diante da decisão judicial, ter como primeira ação mandar a polícia pra lá e ainda mais o exército; isso remonta à ditadura militar. Ninguém imaginava que a primeira coisa que fosse pra lá fosse de cara a polícia. Se esperava que junto com o oficial de justiça fosse uma comissão para negociar”, acrescenta Luciana Pivato.

A truculência, pois, se fez marca do posicionamento do Estado em relação à manifestação e à viabilização do projeto. Até mesmo para lavrar a escritura da área desapropriada o Governo utilizou mecanismos escusos. “Fechado, obrigaram o Cartório de Cabrobó a abrir para legitimar a propriedade da União sobre essa terra indígena desapropriada por fazendeiros”, informa Siqueira.

“O governo está muito intransigente com o povo, a avaliação que se faz é que o governo está tão vendido para as transnacionais - as empresas que vão se beneficiar com esse projeto da transposição - que virou as costas pro povo. Uma das reivindicações era que o governo sentasse conversasse, escutasse o povo, mas nem isso. O governo determinou que nenhuma pessoa sua iria ao acampamento negociar com as pessoas que estavam lá. O único setor do Estado que foi à Cabrobó foi o repressor, a Polícia Federal e a Militar, esta enviada pelo governo do Estado de Pernambuco. Essa foi a interlocução que houve”, relata Plácido Júnior, da CPT PE.

“Foi preparada uma operação de guerra, helicópteros sobrevoando o acampamento durante todo o dia. Era todo um clima de medo, um clima de tensão que se instaurou, você imagina passar noite toda cercado por policiais? Há dois anos, dois índios foram assassinados por policiais da região, então, foi uma noite de terror”, conta Plácido.

Durante os 13 km de caminhada rumo ao assentamento do MST, “passamos em frente ao acampamento do exército, com bastantes soldados armados, metralhadoras em nossa direção e, enquanto tudo isso se dava, a dois quilômetros, dois caminhões foram assaltados. Mas para os movimentos sociais, todo esse aparato. É impressionante como os movimentos sociais fazem medo às elites, à esse governo de corrupção da direita, ao braço armado do Estado; continua como sempre foi”, aponta Siqueira.


Mykaela Plotkin
Comunicação MNDH PE

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